Quando somos crianças não temos idéia do que acontece além das paredes do nosso quarto, da nossa casa.
Não sabemos que nossos pais brigam e de repente param de se falar e vão morar separados.
Não entendemos porque não podemos mais viver felizes como antes, todos juntos.
Perguntamos por que nossa mãe, ou pai, não vem nos ver com mais frequência. Será que não gostam mais tanto de mim?
Temos medo dos novos parceiros da mãe, pois no fundo sabemos que não são e nunca serão o pai ausente, nem nos amarão como tal.
Choramos várias vezes no Natal e no dia dos pais, por simplesmente não estarmos do lado dele naquele momento, nem mesmo que fosse por um momento.
Engolimos o choro e a tristeza, para crescer e seguir adiante, sem ninguém ouvir nossos sussuros de lamentação pela ausência dele.
Escutamos calado o choro da mãe, sozinha, em mais uma decepção de amor, em mais uma tentativa frustrada de preencher aquele vazio da casa.
Mesmo assim crescemos, mas só crescemos pelas mãos guerreiras da mãe, que sozinha vestiu o manto de heroína, e abstém-se da vida própria em prol da esperança de melhores dias dos filhos.
Não entendemos quando em um belo dia a mãe chora ao telefone ao saber do falecimento de um pai que nunca existiu, que nunca esteve presente. Então, por que o choro?
Crescemos, mais ainda, agora com amores também frustrados, normais na adolescência, e achamos que entendemos a mãe sofredora. Não, nem de perto entendemos.
Adultos, graduados, trabalhadores, chegamos lá. Raramente a mãe sofredora é lembrada ou ovacionada por ter sido a maior responsável por aquele status. Injusto.
Levamos uma, duas e tantas rasteiras quanto a vida, incansável provocadora, decidir nos dar, e de repente sentimos que tudo aquilo pelo que passamos nos foi previsto e avisado pela mãe, aquela que nunca teve o seu devido valor reconhecido.
Aprendemos finalmente, o valor daquela pessoa, inestimável, priceless.
Tentamos recuperar o tempo perdido, dando mais atenção, e nos vemos divididos entre o merecido reconhecimento da mãe, o amor conjugal e o então mais novo amor de nossas vidas: nossos próprios filhos.
Apesar de haver espaço de sobra para todos no coração, nunca há gestos o suficiente que o comprovem.
Aprendizado, que tivemos depois de muitos anos, agora servem de lições para os nossos próprios filhos.
Mas, para a nossa grande surpresa, nossos filhos, assim como nós o fizemos, não dão a devida importância e reconhecimento às nossas palavras.
E então aflora o maior de todos os aprendizados. Não importa se somos ou não escutados e reconhecidos, sempre estaremos lá ao lado das peças mais importantes de nossas vidas: nossos filhos!
Este trabalho de André Martins, foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada
As Outras Faces 